sábado, 5 de julho de 2008


hard I + II - sinopse


O díptico hard tem como tema dois ingredientes da mais comum “espectacularidade” contemporânea: a violência (hard I), do corpo à guerra, da família às competições internacionais; catástrofes (hard II), naturais ou resultantes do controlo operativo do mundo (O progresso e catástrofe são faces opostas da mesma moeda – Arendt). No espectáculo, recorre-se a mecanismos cénicos necessários, respectivamente, à visibilidade do íntimo e à representação do que é vasto.


direcção Jorge Andrade com Anabela Almeida, John Romão, Jorge Andrade/Inês Lopes, Pedro Martinez/Diogo Bento texto hard II Miguel Rocha cenografia José Capela vídeo Itziar Zorita, Susana Marques (dança dos políticos), António Magalhães (inserts de catástrofes) som Sérgio Delgado colaboração coreográfica Miguel Pereira cartaz Suzana Vaz imagem do cartaz Isaque Pinheiro: Contacto (2004), cortesia Galeria Presença, Porto imagem dos fatos hard I Paulo Monteiro fotografia de cena Rodrigo Peixoto produção executiva Raquel Relvas em co-produção com Devir CAPa e Teatro da Garagem espectáculo financiado por Ministério da Cultura - Instituto das Artes apresentações Faro e Lisboa


hard III - sinopse


Hard III desenvolve-se em torno da ideia de viagem. Em duplo sentido. Por um lado, pretende evocar-se a viagem da “civilização” ao longo do tempo, desde o episódio da Arca de Noé, até ao trágico afundamento do Titanic. Por outro, a viagem – ou mais concretamente o turismo – é apresentada como manifestação corrente do paradoxo moral do desenvolvimento. A viagem serviu ainda de referência para a concepção cénica do espectáculo, entre rituais de transporte de bagagem, avisos para a prevenção de acidentes e as paisagens longínquas que, enquanto chamariz da indústria turística, integram a cultura visual contemporânea (aqui acompanhada pelo universo da música pop).


direcção Jorge Andrade texto Miguel Rocha com Anabela Almeida e Jorge Andrade quadros José Capela luz e sonoplastia Hugo Franco em co-produção com Festival Y apresentação Covilhã


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Em hard I - sobre violência - à excepção de duas notícias de jornal lidas por uma locutora exterior à acção, não se recorre à interpretação de texto. O espectáculo desenvolve-se em torno de uma célula familiar “mãe, pai e filho”. Para encarnar cada uma das personagens os actores, ou recorrem a uma máscara, ou vestem um fato que tem impressa a imagem do corpo da personagem (uma referência ao programa norte-americano “Flat Daddy” que fornece, às famílias que o solicitarem, pais recortados em cartão para substituir os soldados da guerra do Iraque – tema de uma das notícias). Em hard I sucedem-se:

- um jogo do tipo “Jogos sem Fronteiras” no qual quem perde assume o papel de filho e é sovado;

- uma recriação grotesca de um vídeo de Bruce Nauman que representa uma luta de um casal até à morte;

- um vídeo que representa as tenções internas da família na circunstância de um almoço, acompanhado pelo som intensamente amplificado de um electrocutor de insectos;

- um play-back coreografado do tema Games Without Frontiers de Peter Gabriel;

- recriações coreográficas e muito sumárias de filmes cujo título inclui a palavra “elefante” (todos relacionados com aspectos da violência) finalizadas pela exibição do respectivo genérico;

- pequenas histórias de violência mimadas com miniaturas de elefantes pelo filho da família;

- a projecção da história do elefante Topsy assassinado por Thomas Edison para promover o seu sistema de energia eléctrica.


fotografias de Rodrigo Peixoto

hard I





hard II






Hard II - sobre catástrofes - funciona em três planos: um noticiário (na introdução e na conclusão), a visita guiada ao museu de catástrofes e, pontualmente, testemunhos de vítimas de catástrofes.


1. incêndio (provocado por um fósforo sobre uma tina de gás de isqueiro)

4. natureza pós-nuclear

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9. desertificação (provocada por um secador de cabelo)

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10. degelo

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hard III

Como afirmou Hannah Arendt, “o progresso e a catástrofe são faces opostas da mesma moeda”. Boccaccio, no Decameron, sugeria que foi na sequência da peste que dizimou um terço da população europeia que o homem do fim da Idade Média revolucionou a sua relação com Deus e com o mundo. É a este paradoxo que o espectáculo se refere. Hard III desenvolve-se em torno da ideia de viagem. Em duplo sentido. Por um lado, pretende evocar-se a viagem da “civilização” ao longo do tempo, desde o episódio da Arca de Noé, até ao trágico afundamento do Titanic. Por outro, a viagem – ou mais concretamente o turismo – é apresentada como manifestação corrente do paradoxo moral do desenvolvimento. Trata-se de uma indústria que indicia bem-estar social, que proporciona felicidade a reformados e que possibilita até o conhecimento do mundo, mas que (para além de veicular pouco mais do que um conjunto de estereótipos sobre lugares mitificados) constitui também uma das mais recentes preocupações dos estudos ambientais, devido à poluição a que dá origem. A viagem serviu de referência também para a concepção cénica do espectáculo, entre rituais de transporte de bagagem, avisos para a prevenção de acidentes e as paisagens longínquas que, enquanto chamariz da indústria turística, integram a cultura visual contemporânea (aqui acompanhada pelo universo da música pop).


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